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Av. Jorge Amado. Camaçari, Brasil. 2008
Av. Jorge Amado. Camaçari, Brasil. 2008
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Av. Jorge Amado. Camaçari, Brasil. 2008
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01 Avenida Jorge Amado 02

Programa: Projeto Executivo. Coordenação, Desenvolvimento dos Projetos de Urbanismo, Arquitetura, Paisagismo e Técnicos Complementares da Intervenção. Avenida com 1.700 metros de comprimento e largura variada até 60 metros. Envolvendo Estudo de Tráfego, Travessias de pedestres, Pista de Corrida e Caminhada, Área de Ginástico, Apoio Cafés-Sorveterias, Estudo de Praça-Bosque, mobiliário Urbano, Estacionamentos Públicos, Iluminação Pública e Cênica de toda a área.

Localização: Camaçari – Bahia

Cliente: Prefeitura Municipal de Camaçari.

Projeto: 2008

Área da Intervenção: 120.000,00 m2.

Área Esportiva de Piscinas: 1.510 m2.

Arquiteta: Lucinei Caroso Neiva

Colaboradores: Naiana Barreto,Raquel Hughes, Silvio José, Diego Mauro, Ícaro Vilaça, Rodolfo dos Anjos.

Consultoria Paisagismo: Natureza-Paisagismo e Piscicultura; Ailton Ribeiro – Biólogo.

O que falar sobre a entrada de uma cidade, seus referenciais, sua simbologia, lembranças e alusões que ela é capaz de gerar no inconsciente coletivo dos passantes, de todos aqueles que adentram ou saem das suas portas? Para nós, impossível não lembrar o início do clássico da literatura mundial – Édipo Rei, onde magistralmente Sófocles começa a narrar sua historia com a descrição de Édipo entrando na cidade… muito a contar, muito a viver, muito a descobrir.

Uma vez falando de literatura, como esquecer todas as impressões de Vasco da Gama ao primeiro contato com a Índia e todas as suas cidades. Impressões essas reveladas através da visão poética de Ítalo Calvino no livro Cidades Invisíveis, que é uma interpretação do diário oficial das viagens pelo país indiano. Descrições de várias cidades, cenários, visões e associações de fatos irretocáveis.

Através do nosso projeto procuramos tratar a Avenida Jorge Amado como parte de um todo muito maior, como um elemento de comunicação, de transmissão de um conceito, uma ideia do que é Camaçari, do que “Ela” pretende ser. Queremos aproveitar a oportunidade para reescrevê-la, coroando um novo momento político na sua historia recente. A grande diferença do nosso discurso é que em vez de papel, lápis e palavras, nosso suporte para dialogar são os objetos construídos, sejam eles materiais e sólidos, sejam eles constituídos dos vazios deixados pelas distancias entre essas referências. São elas:

  • Sistema viário,

  • Passeios com seus pontos de encontro,

  • Travessias,

  • Paisagismo,

  • Pista de caminhada com sua academia aberta e sombreada,

  • Recantos cafés,

  • Mobiliário urbano, com alguns deles muitas vezes incrustados nos passeios,

  • Iluminação pública

  • Estacionamentos para veículos privados e ônibus de transporte universitário…

Para desenvolver o conceito da intervenção valemo-nos de uma visão cênica do espaço eminentemente linear que constitui a Avenida Jorge Amado, focando as diversas maneiras que este espaço pode ser apreendido por aqueles que aí vão transitar, levando em conta a velocidade peculiar a cada meio de locomoção. Sendo assim, escolhemos quais as nossas metas e artifícios para sermos capazes de despertar as impressões visuais, estéticas, psicológicas, ambiental e humana na ótica de visão de seus usuários.

Hoje a Jorge Amado é antes de tudo um entroncamento rodoviário, que por falta de opção acabou configurando-se em rota para mudança de destino, inclusive e principalmente para o tráfego pesado. Esta característica lhe confere um aspecto inóspito e quase sempre perigoso, ao chegar é como se ainda não estivéssemos na cidade, ainda na estrada, e todos os nossos reflexos gritassem atenção, alerta, perigo!

Portanto o conceito da intervenção é delineado no momento em que escolhemos uma definição e configuração do aspecto e da hierarquia a ser adotado para a avenida, se mantemos o tráfego rodoviário ou tráfego urbano. Escolhemos tratá-la com uma configuração de tráfego urbano, para uso doméstico, voltado para a população, mas sem perder as características técnicas de alto desempenho, bem como a prioridade para a segurança.

Assim, foram delineados pelo escritório LCN Arquitetura e pela TCC Engenharia (empresa especializada em tráfego contratada pela prefeitura), um sistema operacional de funcionamento de tráfego para a Avenida Jorge Amado, composto por:

  • Uma nova alça para o Viaduto dos Motoristas,

  • Uma rotatória próxima ao Shopping Center e a Famec, que estará interligada a novas rotas de penetração da cidade,

  • Via expressa ao longo da futura Vila Olímpica, que estará interligada a novas rotas de penetração da cidade,

  • Acesso e retorno específico para o shopping e pontos comercias,

  • Dispositivo de acesso à Câmara de Vereadores,

  • Estacionamento para o Centro Administrativo,

  • Retorno entre a Câmara e o Centro Administrativo,

  • Diversos semáforos para ordenar o fluxo e garantir segurança às travessias de pedestres.

Reza o credo do urbanismo contemporâneo que os habitantes necessitam apropriar-se dos espaços urbanos de suas cidades, portanto é necessário torná-los possíveis de serem apreendidos, vividos e amados. Esse é nosso objetivo.

Desta maneira o conceito da intervenção é: resgatar a entrada da cidade, para a CIDADE e seus HABITANTES, mas como fazê-lo? Naturalmente além de responder as necessidades técnicas, há de encantar…

Então falando do macro, da visão geral, a primeira impressão é:

Estamos diante de grande espaço linear que não conseguimos identificar exatamente onde termina. Não há um referencial que nos permita ler a profundidade desta linha, e para piorar a compreensão existem tantas pequenas informações desconexas! Uma imensidão de postes – iluminação pública, alimentação elétrica; várias espécies de árvores, principalmente coqueiros dispersos aqui e ali – sem nenhuma ordenação; o tecido do front construído das fachadas é muito irregular; um grande mar de asfalto espalhado algumas vezes em 60 metros de largura; todos esses elementos contribuindo para poluir e enfear a paisagem! Todo o conjunto faz com que atravessemos a avenida e não sejamos capazes de nos dar conta dela, ela nos é completamente indiferente, salvo pelas inquietações geradas pelo tráfego, conforme dito acima.

Já no que diz respeito à transcrição do conceito:

Guardando a visão macro de uma leitura do contexto a partir desta ótica, a intervenção consiste em fatiar transversalmente a grande linha contínua com uma proposta ritmada e orquestrada com cores, flores, passeios, travessias de pedestres, iluminação pública, mobiliário urbanos, recantos de encontro-café… que se sucedem. Mantivemos, porém, alguns elementos lineares: a faixa direcional para deficientes visuais, as pistas de caminhada e o paisagismo que é tratado na implantação das árvores com uma visão linear e contínua para exatamente permitir o entendimento e apreensão da profundidade da avenida.

Todos os elementos transversais estão intrinsecamente interligados e coerentes nas cores:

  • As faixas cruzam de um lado ao outro da avenida, onde passeio – ela é mineral, quando no canteiro – a opção paisagística das espécies obedece à uniformidade em cor. Alternando para passeio, canteiro vegetal, passeio… conforme o desenho do sistema viário;

  • A ideia se repete ao longo da avenida variando de largura e especificação, tanto do revestimento do passeio, quanto do tratamento paisagístico. Desta maneira conseguimos uma dinâmica visual, ao mesmo tempo em que agregamos surpresas para os passantes, na alteração cromática bem como na visão e sentimento táctil de cada material empregado;

  • Nas grandes travessias de pedestre, as tradicionais faixas de cor branca sobre o asfalto preto, são prolongadas ao longo de toda a largura da avenida. Quando não estão sobre o asfalto, elas avançam sobre os canteiros e passeios em pedra portuguesa, nas cores branca & preta, formando um conjunto contínuo transversal que permite uma rápida visualização, leitura e identificação desta área como uma zona de segurança para pedestres. Desta maneira queremos assegurar o direito de ir e vir de um lado para o outro com grande liberdade, mas obedecendo ao conceito do tráfego e de todos os equipamentos aí implantados;

  • Os passeios se desenvolvem preferencialmente ao longo das vias marginais, respeitando a demanda de circulação de pedestres, que podem também circular nas pistas de caminhada, bem como é disponibilizado a cada 80 metros travessias secundarias ao longo de todo o circuito da avenida. Estes cruzamentos estão ritmados a cada dois postes de iluminação, que coincidem sempre aos passeios de cor preta. Este ritmo é alterado para cada 40 metros na proximidade do shopping, devido a maior demanda.

  • Nos passeios encontraremos diversos tipos de revestimentos, todos eles obedecendo a longevidade exigida pelo uso público, tendo do porcelanato ao cimentado com incrustações, à cerâmica gail, às pedras, faixas direcionais técnicas, etc.

Se por um lado enfatizamos as faixas transversais, por outro usamos o recurso da implantação das árvores para formar e direcionar a visão do observador em um ponto de fuga central, lembrando da lição sempre atual dos grandes mestres renascentistas, a exemplo de Leonardo da Vince. Assim, o conceito da implantação das árvores funciona como grandes linhas que costuram todas as faixas coloridas, variando o pesponto em função da largura da avenida:

  • No canteiro central – palmeiras imperiais;

  • Nas bordaduras das pistas principais – ipês rosas (floração no período da primavera com flores rosas);

  • Nas bordaduras das pistas marginais – sibipirunas (floração no período do outono com flores amarelas);

  • No entorno da área de esporte – felícios verdes

  • Nos passeios pontos de encontro – ipês amarelos (floração no período do verão com flores amarelas) salpicam o piso;

Quanto à iluminação pública, ela vem se incrustar no tecido urbano dentro do mesmo ritmo adotado das transversais, privilegiando uma luz de escala humana, entretanto respeitando uma altura conveniente para o tráfego, mas que não esmaga a visão dos matizes coloridos das diversas espécies vegetais aí plantadas, bem como favorecer a percepção da dinâmica do piso. Os postes das luminárias principais deverão ter um desenho que permita serem usados como suporte de fixação para banners de comunicação vertical, proporcionando à prefeitura a oportunidade de recepcionar eventos e convidados especiais em visita à cidade. Tornando o percurso de chegada dos mesmos à cidade acolhedor e majestoso. Ou seja, existe uma intenção cênica em todos os elementos projetados para a Avenida Jorge Amado, e ela é reafirmada a cada momento do seu desenrolar.

No que diz respeito à alimentação elétrica da COELBA, sugerimos que seja revista e modernizada para poder estar em harmonia e coerência com o todo.

Aproveitando a oportunidade de um largo trecho urbano com relevo praticamente plano, toda uma nova estrutura de urbanização, paisagismo, iluminação, etc., pareceu-nos importante transformar este espaço não somente como área de circulação, mas presentear a população de Camaçari, com um espaço de vida, de estar e conviver. De fato a Avenida Jorge Amado passa a ser cidade, a ter uso doméstico, será um verdadeiro ponto de encontro para sua comunidade.

Teremos uma longa pista de caminhada com 1.260 metros de comprimento, desenhada sempre de maneira a estar próxima ao sombreamento das árvores. Ao longo deste percurso aproveitamos para criar ambientes especiais de encontros e qualidade de vida, complementando a caminhada temos uma verdadeira academia aberta e também sombreada, e depois para desalterar e reenergizar, os pontos de encontro-café distribuídos estrategicamente durante o percurso. Os quiosques café serão dotados de pérgolas sombreadas com bouganvilles e sanitários públicos. Serão no número de quatro, localizados próximo ao Espaço Camaçari 2000, ao Lojão da Construção e dois deles à Seinfra, sempre dispostos nas imediações de estacionamentos.

A área de caminhada e lazer se prolonga com a intervenção próxima à Câmara de Vereadores e Centro Administrativo, onde teremos passeios-pistas de caminhada entrecortados com zonas de encontro localizadas sob as árvores existentes.

No que diz respeito ao mobiliário urbano, já falamos das luminárias, das pérgolas, dos recantos pontos de encontro, dos sanitários públicos, mas é necessário destacar que para acomodar e dar conforto aos transeuntes além dos bancos tradicionais, concebemos um assento luminoso para melhor enfatizar o efeito surpresa que permeia toda a intervenção, que estará localizado preferencialmente no grande passeio que dará acesso à Vila Olímpica.

Entretanto fica uma questão que não quer calar. Através de toda a descrição do conceito da intervenção fica claro que a Avenida Jorge Amado é tratada de maneira cuidadosa e delicada, com um paisagismo rico e elaborado, porém este espaço está preparado para o carnaval? Para responder esta pergunta é importante lembrar que o carnaval é uma festa pontual, realizada uma vez por ano, e que mesmo a cidade que acolhe o maior carnaval do mundo, monta-se e remonta-se a cada evento, porque em Camaçari seria diferente? Será que teremos que ter uma intervenção árida e economicamente pobre para que o esforço de preparar a festividade seja o menor? Ou poderemos sonhar com uma Avenida Jorge Amado deslumbrante e colorida, enfeitando os nossos olhos e preenchendo os corações dos camaçarienses de felicidade e orgulho?

Uma coisa é certa, uma vez executado o projeto, ao atravessarmos a Jorge Amado saberemos claramente quando a adentramos e quando a deixamos. Ela não nos será mais apenas uma área de insegurança de tráfego e indiferença à percepção.

Porém, cabe ainda uma outra questão e quanto ao Portal da Cidade? Esta é mais uma pergunta com uma resposta toda pronta, e sua resposta embelezará e abrirá com chave de ouro toda a intervenção.

Av. Jorge Amado. Camaçari, Brasil. 2008
Não Construído